Campanha publicitária do SINTE/SC em março/2014 Fonte da imagem: http://sinte-sc.org.br |
Para muitas pessoas, a função da vírgula, no texto, é somente para indicar as pausas durante a leitura. Para outras, usar ou não usar esse sinal de pontuação não vai fazer diferença nenhuma no sentido da mensagem. Podemos, sim, aproveitá-la para controlar as pausas, a respiração enquanto lemos, mas, a sua utilidade vai muito além disso e o seu uso incorreto pode mudar completamente o que se pretendia dizer. Entre as várias funções da vírgula em um texto escrito, existe a de separar o vocativo – termo que indica que estamos chamando alguém – e o restante da frase, que é a mensagem que se pretende transmitir ao seu destinatário. Neste artigo, abordamos justamente sobre um caso recente envolvendo o uso do vocativo e a ausência de uma vírgula.
No último mês de março (2014), o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina – SINTE/SC lançou uma campanha publicitária estadual denominada “BASTA COLOMBO!” que foi veiculada em vários meios de comunicação como TV, internet, outdoors, busdoors, entre outros. Até aí, tudo bem. Aparentemente, não há nada de errado. Afinal, vivemos em um Estado democrático onde qualquer cidadão ou entidade representante de uma classe pode se manifestar a favor ou contra um governo. Se há algum problema de ordem jurídica ou política-eleitoral, isso não nos interessa no momento. O “X” da questão nesta discussão está simplesmente na ausência de uma vírgula na frase principal da citada campanha e as interpretações possíveis devido a tal incidente.
Ora, todos devem saber que as relações entre o executivo de qualquer esfera do poder público e os sindicatos, no Brasil, nem sempre são amistosas, logo se pressupõe que, quando o SINTE/SC usa a expressão “BASTA COLOMBO!” está de alguma forma reprovando ou repreendendo o atual governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo. O “BASTA”, neste caso, pode ser interpretado como: “não toleramos mais”, “não aceitamos o seu jeito de governar” entre outras interpretações semelhantes. No entanto, a frase, da forma como foi escrita e veiculada na mídia, pode ter outro sentido, como: “Colombo é o suficiente”, “Basta Colombo - não queremos mais ninguém” ou “Colombo é o bastante”. Quem conhece um pouco da história da luta dos professores da rede estadual percebe claramente que não é esta a realidade, mas, inevitavelmente, o SINTE/SC – o sindicato dos professores – deixou uma brecha para esta possível interpretação.
Campanha do SINTE/SC em Joinville - Março/2014 Fonte da imagem: http://sintejoinville.blogspot.com.br |
Qualquer pessoa ou instituição pode errar ou cometer um lapso, um equívoco no momento de se produzir um documento ou uma peça publicitária, mas como se trata de uma instituição que representa os professores, a falha na pontuação “pegou mal”. Os responsáveis podem argumentar que a culpa foi da agência de publicidade. Tudo bem. Embora esta também não esteja imune, a verdade é que esta questão pesa mais sobre o seu emissor que é o SINTE/SC, por duas razões: primeira, porque quem emite uma mensagem deve apresentá-la, com muita clareza, de maneira que não dê margem para mais de uma interpretação, que é o que chamamos de ambiguidade, a menos que seja intencional; segunda, porque o referido sindicato representa os professores, que são os trabalhadores da educação, logo uma falha dessa natureza, por mínima que seja, é inaceitável, além do mais, a própria diretoria do referido sindicato é formada por professores.
O incidente discutido aqui não põe em xeque a capacidade administrativa do SINTE/SC, muito menos reflete a competência dos professores representados. No entanto, há que se admitir que, em se tratando de pontuação, o Sindicato dos Trabalhadores na Educação de Santa Catarina tropeçou feio numa simples vírgula na produção de sua campanha publicitária. Toda a discussão sobre este assunto teria sido evitada se a frase em questão tivesse sido escrita: “BASTA, COLOMBO!”.
Reginaldo Amorim de Carvalho
Professor da Rede Estadual de Ensino/SC
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